quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

décima oitava página

Subia a Augusta hoje, quando vi duas moças falantes, transexuais, que mexiam com quem passavam por elas.

Quando passei por elas e senti que eu poderia ser a próxima vítima de suas brincadeiras, uma disse a outra:
Cuidado, ela tá grávida!

Sorri agradecida por ter sido poupada e prossegui seguindo meu caminho, com o coração metade acumulado, e graças às elas, metade aliviado.

31 semanas



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décima sétima página

Meu apartamento pequeno está lotado de preocupações.
Tenho jogado coisas fora, colocado novas prateleiras.

Ainda não encontrei espaço para o silêncio ou para caminhadas em plataformas continentais.

31 semanas

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

décima sexta página

Na hora certa, deixar nascer é se separar. Retomar sua origem.
O parto é partir-se em dois.
criança X adulto.
agora eu = mãe.

Li em um livro que todas as mulheres dão a luz pensando na própria mãe.
Por isso vezes força, vezes dor.

Diz-se também nesse livro que os hormônios destinados a amaciar o corpo, amaciam também o espírito.

Li ainda que ao partir-se, ao parir, é preciso abrir os lábios, a boca, para que se abram também os lábios do sexo.
A boca debaixo.
Todos os nossos lábios estão entre o consciente e inconsciente. Entre o sim e o não.

E finalmente é preciso olhar. O olhar é o fio terra que percorre o corpo em movimento até a pélvis.

...
Com tudo isso vou me apercebendo que parir é transformação, é revisão, é saturnino.
(e é sempre a primeira vez, mesmo que não seja mais a primeira vez que se percorre esse caminho... e eu tô gostando disso)

28 semanas

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

décima quinta página

estar grávida é ser sexual ...

28 semanas