terça-feira, 31 de agosto de 2010

trigésima segunda

Eu juro, juro que é verdade.
Hari falou outro dia. Falou uma frase inteira. Falou logo depois de mim, me olhando sorrindo, pendurado em meu peito, a mesma frase que eu lhe disse.
"Que negócio é esse?"
Falou como bebês falam, mas falou o suficientemente claro para que meu marido, do banco da frente do carro dissesse:
"O que Hari disse? Disse 'que negócio é esse?' "
Sim, ele disse.
Falou e disse no dia de seu quarto mensário.

Hari, (agora) 4 meses de vida

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

trigésima primeira página

Os bebês são miragens. São.
O meu fica ali, existindo em meu apartamento e eu me acostumando com ele quando de repente ele me lança um olhar profundo, um olhar de quem tem um corpo muito maior do que os seus mais de 7 quilos; e sorri. Eu arrepio e sinto amor. E sinto também que sou muito pequena diante dessa beleza, dessa presença. Sinto que sou pouco, me envergonho. Ele sabe de minhas limitações.

Tenho como missão ser mãe dessa pessoa. Isso dói. E assusta.
Dói porque é uma missão grandiosa e solitária, e assusta porque é uma missão grandiosa e solitária.
Os bebês são seres celestiais e eu humana.
Sinto que eu tenho em casa um rei.

Sinto que meu filho é tão importante que muitas vezes me sinto ridícula quando me dirijo a ele no diminutivo. Ele é tão grande e tão bonito.

Meu filho é uma visão de luz.

Vê-lo dormir é assustador.
É surpreendê-lo uterino, secreto, espírito ainda. Do lado de lá.
Tão íntimo. Ser mãe é lê-lo no dia e espiá-lo na noite.

A cada dia é o primeiro dia. O primeiro dia de alguma coisa entre nós.
Todos os dias ainda são o primeiro dia depois do parto.

Hari sorri muito. Ri.
Eu acho que quando a pessoa começa a gargalhar é porque já é mais parte desse mundo. Ele gargalha tão lindamente, faz que busca o ar lá dentro, ri de dentro para fora. Ri com os pulmões e com as perninhas.

Hari já é desse mundo de cá.
Hari é do mundo de lá.

Meu filho é todo dourado.
Ele luze.
Ninguém percebeu isso ainda?

Hari, quase 4 meses de vida