sábado, 17 de agosto de 2013

septuagésima terceira página


a vida ao redor mudando alguns rumos e no meio de alguns descasamentos:

"como é casar, mãe?"
"é quando duas pessoas adultas se amam muito e querem viver sempre juntas, fazer tudo juntas, fazer papá, viver juntinhas, dividir os mesmo sonhos..."

"ah! vamu casar então?!" -bruscamente me interrompendo e seguido de um longo, silencioso e forte abraço.

Hari, 3 anos de vida

segunda-feira, 24 de junho de 2013

septuagésima segunda página


a vida seguindo, vezes, dolorida, outras colorida   (infeliz rima inevitável)  e meu filho ali companheiro sem oscilar, oscilando às vezes por inteiro.

eu inventando que sou haste de veleiro, mas me sentindo menina à beira mar, com medo.
com coragem também, mas com medo das velas que eu tô tentando soprar.

tudo meio misturado, eu bem imperfeita-arrogante-procurando-ser-perfeita, olho para o lado e ali, outra vez, meu filho ereto e narrativo, brincalhão e regredido. tudo muito humano e inseguro, porque eu achava que tudo deveria ser muito previsível e fincado no seguro.

nunca nada antes tão escorregadio. essa vida de mãe é uma peia.
muito amor e muita peia.

precisando separar a menina-eu-querendo-brincar-e-agora-tudo-vai-dar-certo e o menino do presente, novo, em branco.

"mãe, índio voa?
não, filho, índio não voa.
mas anjo voa, né?"

muitas vezes, todos os dias.

e a novidade da roupa muito louca escolhida depois do banho. vai shorts sobre calça. roupa de palhaço.
desce lindo às escadas pro espetáculo.

todos os dias.

conto a história da lua que guiava a comilança desenfreada do tatu e do tamanho-do-á.
sim, tamanho-do-á.
e saudades do dia que ele falou: " am é água. am é agua!!!" e nossa vida mudou.
(dia 17 de janeiro, 2013 - anota aí essa data no canteiro)

até lembrança de sua pregressa vida, já rolou:
"tinha praia na alemanha, e curso de alemão. e tinha também pulseira e colar. quando eu era bebê na alemanha. e eu falava: li fu. e tocava piano de cauda.
(22 de janeiro de 2013, anota aí mais essa no seu canteiro)

você conheceu o Koellreutter quando tava na Alemanha?
não, ele tava fazendo outro trabalho.

pra onde você tá indo agora? (olhando pra ele, menino com enorme círculo enfiado pelo braço)
para alemanha, fazer água."

fazer água.

e quando eu tento vesti-lo e ele muda de idéia e resolve sim fechar a camisa:
"mas aí as pessoas vão ver meu coração. fecha pra ninguém ver meu coração"

fecha pra ninguém ver meu coração.
proteção.

é delicadeza e importância.
quem tem  menino em casa vive com um rei.

e eu sempre cheia de lembranças, como se o tempo tivesse passado e eu já não tivesse mais tempo algum.
sinto saudades e também sinto gravidade.
e peso.

nunca antes tão ancora e tão presente.
essa vida de mãe é uma peia.

planejando mudar de foco, hortelar finalmente.
capinando novos caminhos só para poder me conectar com a possibilidade, também finalmente, de ser mãe livre e libertar nós dois do mantra do conseguimento.

"enquanto eu consigo, você brinca durante o conseguimento.
enquanto eu consigo, você brinca durante o conseguimento.
enquanto eu consigo, você brinca durante o conseguimento."

nada mais de guimentos. tudo mais de bons momentos.
e também alecrim. e sálvia. e lavanda. e unguentos.

quero dizer que ser mãe tem sido de grande crescimento.
muita coragem para assumir retornos (é preciso) e ainda algum medo para curar ex-ditos.
é preciso des-dizer ditos jogados ao vento.
(outra rima infeliz inevitável)

ter um menino de 3 anos em casa é a humanidade toda, inteira, crescendo na sua sala.
e erva daninha linda. selvageria e nobreza.
humildade, humildade é a palavra.
e tempo.

Hari, 3 anos de vida

quarta-feira, 17 de abril de 2013

septuagésima primeira página




fim da festa já e filha parida. pra outro lugar.
todo ano é assim: re-parto. reparto.

hoje fizemos sua primeira festa.
e eu senti que ela gostou.

feliz dia e triste também.
primavera aqui em casa.
e é outono: primavera atemporal.

viva a vida que vive em todo lugar e viva quem sabe que ter filho espiritual é benção transcedental.

Hari, 2 anos e 11 meses de vida
Maria Jaci, 10 anos de vida espiritual

septuagésima página




a essa hora, agora, a 10 anos atrás, num trabalho de parto especial, me preparava sem saber, para fazer nascer direto prum outro plano, minha filha Maria Jaci.

longo trabalho que se concluiu só na noite deste mesmo dia.
dia/noite um pouco confusa, um pouco triste e um pouco feliz.

hoje o dia é de lembrança, de festa e de coração materno grande.
grande do tamanho da estratosfera inteira.

meu abraço vai longe, bem longe.
bem mais longe do que a pipa, que eu soltei naquele dia, pôde ir.

Hari, 2 anos e 11 meses de vida

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

sexagésima nona página


vestindo um grande anel de plastico no ombro como se fosse uma bolsa:
"mamãe, tô indo embora."
"pra onde vc vai, filho?"
"pra Alemanha."
"fazer o quê?!"
"fazer água."

Hari, 2 anos e 9 meses de vida