terça-feira, 28 de abril de 2020

centésima quadrigésima primeira página



Quando a tarde caiu a luz do poste da rua acendeu. Era 17h54, a hora que Hari nasceu há 10 anos atrás. Quando ele nasceu não tinha nome. Era o bebê. Por 7 dias. Até que o nome dele veio, também no final de tarde. O sol queimando de vermelho o céu. Os fins de tarde são assustadores pra mim. Anunciam uma vida inteira pela frente. É muito mistério.
Ontem à noite a noite não acabava. De madrugada fui tomar banho. À luz de velas. Olhei pro azulejo frio. Eu estava tão sozinha. Ser mãe é tão solitário. Um medo. Não era medo. Era o portal se abrindo outra vez. Pude ver como foi que comecei esse transe que é ser mãe de meu filho. Como é ser mãe de um filho.
Quando vi o instante que o dia caiu me veio uma reza. Filho tenha coragem. Siga seu coração. Ame. Seja amado. Desejo prosperidade. Obrigada por ser meu filho. Quando eu morrer ainda vou olhar por você.
Mamãe te desejo o mesmo.


Hari, 10 anos de vida, na quarentena