sábado, 30 de abril de 2016

centésima décima terceira página


Se você usa duas mãos pra mostrar quantos anos você tem, um pedaço importante da vida acabou, e um de mais firmeza, de andar mais em pé, olhando pra frente, exercitando sins e nãos, vai começar.

Pra mim também começa.
Então ele vai me levando.
Eu vou seguindo o mestre.



Hari, 6 anos de vida

quinta-feira, 28 de abril de 2016

centésima décima segunda página


Há 6 anos, agora, eu achava que ia morrer de dor. Eu urrava. Eu estava bem pra além do meu limite já.

A dor do coração, da memoria, do trabalho, tudo, tava toda expandida. Corpo todo.

Eu estava como se numa jaula. Era o box do chuveiro. Eu olhava Ana Cristina Duarte: quero cesárea.

- não dá mais tempo.

As contrações vinham sem pausa. Era uma surra. Eu consegui ir, aos poucos, até a cama. De quatro me apoiei na bola. Pari. Tudo passou. Conheci meu bebê. Emoção de amor. Encontro. Amor aterrizante.

Passei a madrugada e o dia de hoje muito conectada com aquele dia. Tudo era paisagem estranha. Eu me senti alterada. O tempo e o espaço é uma ilusão.

Eu tinha muitos planos quando me tornei mãe. Tinha muitos planos pra hoje também, mas tudo tem sido diferente, e eu desafiada a estar presente, ligada no instante. Meio malabarista e artista do improviso.

Eu não tinha ideia de nada que tenho vivido nesses últimos 6 anos. Muitos loopings. Adoro todos. Mesmo os doloridos. Também os detesto.

Tô mais velha, tô mais madura, tô mais corajosa, e com mais clareza de que ser feliz é mais importante do que alcançar uma meta qualquer.

Tem sido forte ser mãe desse menino. Não consigo explicar, mas tá. Queria que a parte do futuro, nele, pudesse me ler agora. Queria dizer o quanto sou grata. O quanto sou falível. O quanto me arrependo dos erros. O quanto amo. O quanto quero atender sua missão, no que me é dado de missão.

Gratidão. Que lambada ser mãe. Tô feliz. Amo Hari. Admiro ele muito.

Mais uma vez: bem vindo filho!! Boa viagem!

Hari, 6 anos de vida

quarta-feira, 27 de abril de 2016

centésima décima primeira página


Sobre nossa cã Pagu.
- mamain, hoje eu senti uma força muito grande da Pagu. No fundo no fundo ela é uma cachorra de guarda. Se a gente colocar uma coleira cheia de espinhos, ela volta a ser de guarda.

Hari, amanhã completando 6 anos de vida

sábado, 23 de abril de 2016

centésima décima página


- depois mamain te manda mais fotos minhas pra você matar saudades.

- eu não tô com saudades de você mamain.

Hari, quase 6 anos de vida

sexta-feira, 22 de abril de 2016

centésima nona página


- mãe já que o mel tá cristalizado a gente vai ter que dar banho de baleia nele.

Não.
Banho de maria.

Hari quase 6 anos de vida

sexta-feira, 15 de abril de 2016

centésima oitava página


Hari passou o fim da tarde roubando mexericas do vizinho.

Estão na cerca pendendo pra meu terreno.

Ele deu pras cachorras, comeu um monte, e está todo narrativo a respeito de sua aventura.

A noite foi outra vez. Só dessa vez que eu vi. Que destreza! Escalou a cerca e jogou varias no chapéu.

Senti orgulho.

O vizinho viu. Se aproximou e Hari ganhou mais um monte.

Pra janta: mexerica com comida.
Isso é Colher de Pau.
Viva a comida afetiva!

Hari, 5 anos e 11 meses de vida