terça-feira, 25 de setembro de 2012

sexagésima quinta página



luz, paz, amor, confiança e liberdade

Hari, 2 ano e 4 meses de vida

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

sexagésima quarta página

feminino colapso, constelação e vida vertigem

há quem diga que sogra nunca é ex sogra. uma vez sogra, sogra sempre.

eu tenho três.

a primeira hoje desencarnou e foi a primeira dessas três que reencontrei nessa minha vida de agora.
sim, porque dizem também que sogra é sogra hoje, mas num outro dia bem passado, de outra vida, foi sua mãe e agora no novos papéis as contas pendentes despenduram-se.

essa tal primeira era dureza.
bicha brava.
mas comigo era só beleza.

não posso deixar de dizer, porque preciso honrar essa doce lembrança, que eu era a “minha linda”.
era como me chamava.

teve um AVC um pouco depois que minha avó paterna.
eu no meio delas, entre seus AVCs, num curso/rito lindo feminino com a parteira mexicana Naoli Vinaver.
minhas figuras femininas acontecendo em suas revoluções paralelamente às minhas revoluções e me senti conectada a elas e a mim mesma dessa forma.

feminino colapso. feminino em check.

o dia foi duro e foi florido.
primeiro foi florido pelo reencontro da ex família e duro porque aquele mulherão bravo e generoso praticamente não cabia naquele caixão insuficiente.

ela era abundância.

para ela deveriam ter providenciado uma nave muito linda, com mães de santo dançando e muita comida.
a Sônia era festeira.

mas tava bonita a moça. como pode?
mesmo ali amarrada, encaixada, retangulada, tava bonita, carona bonita, olhinhos puxados, nariz imperativo, boca grande fome-de-mundo e mãos com flores, as mesmas mãos que me apertaram bem forte muitas vezes.

senti vontade de gritar bem alto, ali na frente do caixão, pra todo mundo ouvir, minha gratidão.
gratidão pela acolhida, pela bicicleta secreta que me deu quando eu morava em Londres, pela roupa chic para ir ao casório de alguma prima da família, pela viagem inesquecível à Itália, pela porta aberta, pela porta aberta, pela porta aberta e pelo o amor e lugar reservado ali sempre á sua mesa.

boas lembranças.
será que tem Face book no céu?
 
cheguei em casa querendo dizer a ela que tamus quites, que tô feliz e que tô triste.
que pode contar comigo que quero retribuir o amor recebido.
que a vida nos separou alguns anos, mas meu coração sempre esteve ligado.
que seus filhos moram no meu coração, são para mim como irmãos.
que sua família me traz alegria e que sua passagem me faz pensar em como meu feminino precisa de trégua, de paz.
de como quero caminhar uma caminho feliz, porque de alguma forma, entendi a partir de alguma equação, que o futuro está aí.
o meu, e que não quero partir assim, desistindo, desistida, porque entristecida.

mesmo assim, porque sei como e porque se foi, tenho que dizer que o enterro de minha sogra foi, de uma estranha maneira, uma bela festa de chegada a seu novo lugar.
em meu coração eu vi essa festa.
e vejo até agora.
ela está em paz.

tô sentindo também a constelação por trás de mim. à minha frente.
tô sentindo a vertigem da vida, as peças se encaixando e me vendo em meu lugar.
vontade de me aninhar com meu filho e só isso, cuidar só da casa, ter mais um monte de filhos e nada mais.

de se trata isso tudo aqui mesmo?
quanto tempo ainda temos?

eu sei, e juro para quem me lê, que a vida é sopro.
e nessa vezes ventania é melhor se alinhar.

descobri com Naoli Vinaver que cantar seu nome é chamar seu chamado.
tô cantando meu nome aqui e vendo surgir na minha frente todas elas, numa roda, me amparando.
sogras, avós, mãe, amigas.

vertigem.
...

vou fechando esse palavriado, essa declaração de vida e de adeus, dizendo que isso aqui é manifesto de nora/filha.
gratidão por esse dia e por nossa vida.
vejo você, Sônia querida, vejo você agora todos os dias.

boa viagem de volta.
bom final de primeiro dia de adeus.
te amo para sempre.

Hari, 2 anos e 4 meses de vida