sábado, 29 de março de 2014

septuagésima sexta página


Hoje fui tratar meu canal.
Três horas de consulta.

Entrei tensa. Fui relaxando.

Meu filho entre brincar sozinho e ver filme no celular, cursava odontologia enquanto eu com a boca escancarada.

Fazia mil perguntas. E Lufe, o dentista, respondia todas, com todo respeito.

Meu filho resolve que quer fazer cocô enquanto eu não posso nem piscar.
Ele vai sozinho e Lufe, além de dentista, ainda cuidou de limpar meu filho.

Sai de lá levitando.
Sofrimento ZERO.

É um super terapeuta radiônico misturado com doulo e mega dentista.

Camila Goytacaz, um recado: diz para o Lufe que foi tão bom que, diferente das outras vezes com outros dentistas, estou animada p voltar lá semana q vem.


Hari, 3 anos e 11 meses

quinta-feira, 27 de março de 2014

septuagésima quinta página


A maternidade é a experiência mais avassaladora que já vivi.

E nunca cessa. Nunca pára de me avassalar.

A quase 4 anos mal durmo. E não é só porque bebês mamam a noite ou crianças maiores sentem saudades dos pais, é porque minha cabeça fervilha vulcanicamente e meu coração virou uma fábrica de ideias apaixonantes.

Nunca antes fui tão criativa.

Nunca antes o tempo foi tão curto pra dar conta da vida fervilhante.

Eu sinto que mães são seres muito potentes, até quando choram. Até quando se sentem sem poder algum.

Eu choro muito e me sinto sem poder muitas vezes, mas meu músculo anímico tão teimoso que não páro minha máquina interna e reconheço esse mesmo gesto em todas as mães ao meu redor.

Eu amo ser mãe, mesmo quando dói. E amo as mães que vim a conhecer depois que atravessei aquele rio- parto- intenso no dia do nascimento de meu filho.

Criar uma pessoa é, para mim, a coisa mais importante que posso fazer de minha vida. E mais confusa . E que mais me separa ao meio.

Eu sinto sim saudades dos dias que eu era uma só, uma pessoa sem divisórias tão escandalosas, mas nunca antes tanta doçura, tanto riso, tanta graça na convivência com outro ser.

Ele agora deu pra fazer caretas!
(mãe, vou me esconder. vou fazer uma careta pra você. leva um susto?)

To com medo. Daqui a pouco ele faz 4 anos e me sinto me despedindo de muita coisa, até dessa foto de perfil.

Medo- coragem.
E amor.
E roda de mulheres.

Hari, 3 anos e 10 meses de vida

domingo, 23 de março de 2014

septuagésima quarta página


estamos cultivando uma semente de alguma coisa, em um copo de pinga, que Hari encontrou pela grama.

já estava com uma pequena folha despontando e um pézinho-raiz.
só.

todos os dias ele entusiasmadamente surpreende-se: mãe! olha! tá crescendo!

hoje enquanto eu dava um curso para algumas pessoas, na casa de uma delas, Hari encontrou uma cesta de flores secas.

pegou uma.

a dona da casa gentilmente disse que ele poderia sim levar a que ele escolhesse.

levou.

no carro ele me diz, outra vez entusiasmado: mãe, quando a gente chegar em casa, a gente pode colocar em um copo com água para ela crescer.

eu: sim, claro filho. aí a gente vê o que vai acontecer com ela!

é claro que eu poderia ter dito: não filho..... isso é uma flor seca. está morta. ela vai murchar. nada aí vai nascer.

só que com isso eu também estaria matando a belíssima oportunidade de ele observar isso autonomamente, passo a passo, no passo dele.

no passo que o corpo dele, junto com coração interessado pela vida, pode caminhar.
sabe caminhar.
está pronto para caminhar.

a prontidão para qualquer experimento passa pelo corpo todo, cabeça-corpo-coração.
tipo sangue.
tipo ar.

eu vou junto com ele.
segurando meu carro para não atropelar seus bois.
e acolhendo os pedaços dele, que vez ou outra chora, pelos outros pedaços de flores secas  que vez ou outra não nascem, que vez ou outra não brotam.

Hari, 3 anos e 10 meses de vida