domingo, 23 de março de 2014

septuagésima quarta página


estamos cultivando uma semente de alguma coisa, em um copo de pinga, que Hari encontrou pela grama.

já estava com uma pequena folha despontando e um pézinho-raiz.
só.

todos os dias ele entusiasmadamente surpreende-se: mãe! olha! tá crescendo!

hoje enquanto eu dava um curso para algumas pessoas, na casa de uma delas, Hari encontrou uma cesta de flores secas.

pegou uma.

a dona da casa gentilmente disse que ele poderia sim levar a que ele escolhesse.

levou.

no carro ele me diz, outra vez entusiasmado: mãe, quando a gente chegar em casa, a gente pode colocar em um copo com água para ela crescer.

eu: sim, claro filho. aí a gente vê o que vai acontecer com ela!

é claro que eu poderia ter dito: não filho..... isso é uma flor seca. está morta. ela vai murchar. nada aí vai nascer.

só que com isso eu também estaria matando a belíssima oportunidade de ele observar isso autonomamente, passo a passo, no passo dele.

no passo que o corpo dele, junto com coração interessado pela vida, pode caminhar.
sabe caminhar.
está pronto para caminhar.

a prontidão para qualquer experimento passa pelo corpo todo, cabeça-corpo-coração.
tipo sangue.
tipo ar.

eu vou junto com ele.
segurando meu carro para não atropelar seus bois.
e acolhendo os pedaços dele, que vez ou outra chora, pelos outros pedaços de flores secas  que vez ou outra não nascem, que vez ou outra não brotam.

Hari, 3 anos e 10 meses de vida

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