segunda-feira, 15 de outubro de 2012

sexagésima sexta página


minha linda querida cangaceira vózinha Rosa, a Rosalina,  partiu ontem de mim e de nós, depois de um dia muito lindo de trabalho que eu tive, muito especial, muito importante para mim e foi com essa notícia que selei  esse meu dia.
estranha tristeza, invertida alegria.

velei, enterrei e honrei a passagem dela na minha vida.

meio brava e meio doce: a desbravadora do cangaço.
faltava lhe só um cajado.
saudades dos dias intermináveis de bagunça com meus primos, aos fins de semana, na sua casa e de um biscoitinho de farinha e mais nada que tinha um gosto de nada mais maravilhoso do mundo. e que me deixava cheia, absolutamente transbordante de lisonjeio, quando saia de lá com seu velho potinho de margarina cheio disso, comendo sem mais aguentar até chegar em minha casa, para poder assim ir me despedindo aos poucos dela e deixando em mim aos poucos seu presente em meu corpo.

ainda com terra dentro do meu sapato, da despedida de hoje, não vou lavar meus pés por um bom tempo – pote de margarina, biscoito de nada, terra, cajado, picada -  porque quero aos poucos lembrar para sempre, em mim, no meu corpo, dessa mulher muito terrestre, muito plantada, que criou um bando de filhos, todos meus tios amados e meu pai.
e eu nasci assim.

muita gratidão por sua passagem.
por seu legado primitivo bonito.
grata pelo feminino corajoso resistente.
grata até pela dureza para eu amaciar em mim.
grata minha vózinha pela família, meus tios, meus primos, pela referência e pelo um começo que começou por mim.

abriu picada a Vapor para eu passar.

gratidão gratidão gratidão e saudade. e pé sujo, margarina,  terra, biscoito, passagem, ponte e nada.   

Hari, 2 anos e 5 meses de vida

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