quarta-feira, 21 de outubro de 2009

primeira página

bom, pois é...

finalmente, após um longo período de escuridão, começo a emergir para esferas mais solares; e merecidas.
Atravessei alturas estratosféricas e a profundidade abissal do mar, em pesadelos constantes, e quase me sinto, agora, em terra firme. E quase nada mareada.

O medo tem a ver com o ar e tem a ver com o mar.
Altura e profundidade.
De tanta vertigem pensei que nunca mais seria a mesma.
Nem para meu marido.Tantas vezes, na direção dele, fui tão primal no volume e na fúria, que quem passou a ter pesadelos, depois de mim, foi ele.
Sonhou certa vez que era atacado por adagas afiadas e que sua missão era atravessar um campo minado na direção de seu agressor e depois subir uma montanha muito alta e ser forte, muito forte, apesar do medo que sentia.
(...)

...
Cada vez menos me sinto uma bola de hormônios descontrolada, uma ameaça pública e tenho tido mais paciência com a falta de ninho que nossa atual situação conjugal tem me/nos proporcionado.
Agora o ninho está mais em mim e decidi sair em um vôo poético de exploração e registro.
Volto a sentir o impulso do registro. Quero, apesar de ainda muito timidamente, já me comunicar com meu bebê, mesmo que ainda ele/a seja algo entre imaginação e fato.

Ainda não consegui me fotografar. Tenho uma vasta coleção de fotos de minha primeira gravidez. Toda a segunda feira, por 9 meses eu fotografei minha barriga. Organização obsessiva. Agora sem coragem.
Sem coragem porque sei, depois do passado, que a vida é um sopro e tenho medo da imprevisibilidade dos ventos.
O que estará escrito para mim?

Sei também que eu engravido e é solitário e que meu marido também engravida e é também solitário para ele.

Tomara ele me perdoe as madrugadas que teve sair para buscar comida e meus acessos primitivos de irritação. Sei que logo a natureza em mim será mais povoada de cores pastéis e eu mais redonda e rosada. Aí mais submissa aos peitos em leite e a barriga oficial, serei rendida e finalmente suave.

Ah! E que meu bebê me perdoe o medo de perdê-lo e o medo de conhecê-lo e depois perdê-lo. Que ele me perdoe o medo e que esteja protegido de mim, enquanto eu for medo.

E por aqui eu fico hoje, iniciando esse meu diário de gestante e abrindo os caminhos para que eu me alimente mais de beleza e que a graça desça em mim e é por isso que eu agradeço todos os dias todas as coisas. Porque agradecer é fazer a graça descer...

13 semanas

Nenhum comentário:

Postar um comentário