quinta-feira, 22 de outubro de 2009

segunda página

Os dias têm sido melhores.
Silenciosos.
Minha barriga discreta, meu corpo leve.
Ninguém diz que em mim há um bebê.
Me lembro dos dias anteriores a notícia oficial. Eu já sabia.
Reconhecia a borracheira.
Fiquei feliz e secretiva. Assistia a onda mirando a epiderme. Saia do coração do útero, inundava o corpo todo e me sentia escolhida.Fui assistindo devagar.
Mas nem sempre devagar e, porque, nem tampouco transparente, numa valsa, fui rodeando meu marido. Sorrindo. Cortejando. Enjoando um pouquinho.... E testando: será que desgostaria da notícia?

Paramos em um hospital depois da feliz festa de aniversário de minha querida vó Rosa. Nas pernas foliculite aguda. Para tratar, checar possível gravidez. Resultado: positivo.
!!!

Surpresa não surpreendente para mim, mas como homens não têm corações em úteros, nem ondas que buscam pela epiderme, um exame é bom e eles gostam. Bom também para mulheres que por vezes confundem imaginação com realidade.
(...)
Bom, ai vieram as marés, as ressacas e muitas idas ao banheiro. Jatos estomacais.

E agora um silêncio... Falei lá em cima.
Aguardo, auscultando, o que de mim vai emanar, algum ruído, um movimento de alguém aqui dentro...
Estamos vizinhos.
Estamos vizinhos? Será que esse sabe disso?

A psicologia pré-natal, Freud, etc., afirmam que o bebê é absolutamente permeável a minha astralidade. Que se sente ameaçado de extermínio se estou muito estressada, que é até capaz de chorar.

“Há muito mais continuidade entre a vida intra-uterina e a primeira infância do que a impressionante caesura do ato do nascimento nos permite saber.” Freud, 1926

É assombroso.
Mas fora todo o assombro, devo confessar que, porque um pouco dramática, não revelei que na verdade ainda tenho sim algum, pequeno ruído. Sim, de leve: é essa fome e essa leve fraqueza. Ufa. A isso me agarro então.

Sigo portanto contente, me segurando ao que posso, até que minha barriga fique mais oficial. Aí vou passear, vou rodar saias longas, vou empinar meus peitões, vou fazer cara de “ui, ui, que peso!!!” nas filas de cinema e sorrir, sorrir, cinicamente para o mundo benevolente....!!!!!

13 semanas

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