segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

quadrigésima segunda página

Hari hoje comeu papel.
A santinha que estava colada na parede.
Santa Cecília.
É um verdadeiro religioso. Antropofagicamente.
Já tinha falado isso antes. De ele ser antropofágico.
E é.
É pela boca que encarna. É também meu guia.
Me guia na expedição pelo escuro.

(tateando no escuro)

Na minha caminhada rumo a mãe que todos os dias um pouco mais me torno, vou descobrindo os instrumentos de regulação que devo ou não lançar mão, os instrumentos de regulação.
Céu. Terra.

(a gente se esquece como se faz essas coisas)

Logo depois que pari Hari eu estava toda aberta.
Aberta.
Entendi tanta coisa. Tanta coisa que agora não cabe mais em mim.
Fechei. Estreitei.
Porque para parir a gente tem que se abrir.
E para ser mãe é bom estreitar.
Sim. Para ajudar o outro a encarnar.

Tenho encarnando junto com o Hari. Tenho. Levando umas peias. Boas.
E meditado sobre missão.
Não cabe na estreitice de ser mãe muita vaidade não. Não orna.
E é bom, que se possível, menos pretensão aja ali. Claro. Mais gratidão.
E coragem para a humildade.

Maternar é caminho de evolução.
(e madrastar vezes é crueldade)

...
Eu tenho uma linda enteada. Um dragão.
E digo que quero poder ter mais paciência, dadivosa, proporcional a sua grande rebeldia.
E a embalar como minha filha.
É isso que ela quer, não é?
Acho que é.
...

Agora é bom eu ficar por aqui então, meditando sobre esse dois.
Irmão sol. Irmã lua.
Sobre a falta e a abundância.
E sobre o que está nas minhas mãos.
O resto, o resto... é pura falação.

Hari, 8 meses de vida

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